terça-feira, 8 de novembro de 2011

COLUNA DE CARLOS JOSIAS

O BEIJO NO DISTINTIVO E A MOTIVAÇÃO PARA JOGAR BOLA

Há, entre tantos outros, um entendimento que me parece bastante contraditório na opinião dos analistas esportivos em geral acerca do exame que se traça entre amor ao clube que o atleta defende e o profissionalismo. A maioria, esmagadora, sustenta, com veemência intransigente, que o ato de beijar o distintivo do time é um gesto banal – beira ao cinismo e que não reflete paixão de fato, haja vista a constante troca de clubes entre jogadores profissionais e que estes passeiam de um para o outro de acordo com o montante remuneratório, ou seja, amam pelo que ganham e não para quem jogam. Sempre que isto vem à tona me lembro do Paulo Nunes beijando a camiseta do Palmeiras à frente da nossa torcida, comportamento que a mim, na realidade, mais sugeriu uma desforra, ou um desaforo – sabe-se exatamente lá porque cargas d`água -  do que qualquer declaração de amor ao periquito da terra da garoa. Mas inegável que longe estamos dos dias em que os atletas realmente lutavam com zelo amoroso pelos seus clubes e dos primórdios em que alguns jogavam anos e anos quase que graciosamente – no inicio do século passado de graça mesmo, e ainda levavam a camiseta para lavar em casa como fazia meu saudoso pai na década de 20 e 30 pelo vovô do futebol, o SC RIO GRANDE. As relações hoje são comerciais, de empregado e empregador – privilegiadíssimo, alguns poucos, diante das fortunas que recebem. R10 é exemplo típico disto, embora talvez eu esteja tomando como paradigma o avesso do avesso, como poetizou o letrista. Eles amam o dinheiro, a grana, não as cores que vestem, apesar de uns poucos ficarem mais identificados com este ou aquela instituição futebolística mas sempre tendo em mira o alto salário, a renovação pomposa e tudo o que o dinheiro lhes possa conceder em nome do jogo. Profissionalismo. Até ai tudo bem, nem ouso levantar discórdia sobre esta posição realista. Mas aonde vem a contradição. Simples. Com extrema freqüência os dirigentes são criticados – e nós também nos levantamos contra isto – quando acusados de jogarem a toalha em meio ou perto do fim da competição e logo vem a censura severa: como os jogadores receberão tal manifestação, que ânimo terão para continuar jogando e vencendo os jogos se os próprios dirigentes estão desistindo deste ou daquele campeonato. Isto aconteceu há bem pouco tempo com o nosso Grêmio, quando a direção, sem grandes perspectivas de título e classificação para a LA deu sinais de que já se preparava para 2012 e já pensava em contratações, trocas, vendas e etc. Ora mas então como fica o profissionalismo aqui se for pensar que tal conduta induziria o atleta a relaxar na sua atividade profissional ? Se eles ganham – e muito bem diga-se de passagem – para treinar,  concentrar, entrar em campo e vencerem as partidas, como entender natural que numa circunstância como esta possam desanimar e se desinteressar de continuar prestando serviços ? Que raio de profissionalismo é este ? É natural, e humano, que o empregado na esteira de se ver adiante transferido para outro lugar, no caso por venda, troca ou liberação, passe a se preocupar com seu futuro e o que fazer, mas francamente, a direção não precisa acenar com nenhum tipo de previsão de trajetória porque independentemente disto eles, atletas, a cada fim de ano – estejam ou não com seus contratos em vigor – sempre espculam condições melhores em todos os sentidos objetivando sempre e invariavelmente melhores vantagens – em especial as econômicas. E são incontáveis os que em pleno vigor contratual forçam saídas, buscam aumentos salariais, e outras condições que lhes proporcionem bem estar elevado. Não consigo, assim, compreender esta contradição. Se é fato que o ato de beijar o distintivo não é declaração amorosa e que talvez a critica ou os olhares desconfiados da critica recaiam sobre quem age assim, a maioria com velada censura, não se pode aceitar que esta mesma critica venha a justificar desinteresse do jogador por ato da direção que pensa o futuro melhor do clube para o ano seguinte, ainda que se possa exigir ou aconselhar cautela dos dirigentes nestas situações. Não se pode compreender que a critica sempre recaia sobre atos atirados como culposos aos dirigentes que porventura deixaram escapar esta ou aquela manifestação neste sentido com este argumento da desmotivação do atleta. Seria um cinismo tão flagrante como o beijo no distintivo. Ou está tudo errado. Hoje, por exemplo, sabe-se que no ano passado os jogadores do Grêmio foram super motivados por extras para alcançarem a LA que ao fim e ao cabo obtiveram êxito e é creditado especialmente a esta benevolência diretiva a façanha conquistada, encarecendo os cofres do clube. Valeu à pena ? Bem, imperioso que se diga que sempre é válido qualquer empreendimento para uma classificação a um campeonato que pode render muito mais do que o investimento feito em especial se o título vier – a compensação vem. Mas é de se indagar: com salários milionários, como o do Gabriel – um simples lateral – é crível que ele precise de mais incentivo do que já recebe para jogar mais e levar o time a uma classificação ? O profissional, por excelência, não deveria, NATURALMENTE, ter toda a motivação do mundo para tal ? O que está errado é a mentalidade. Ou eles são profissionais, na expressão literal do vocábulo, ou são espertos. Aproveitadores. Que a critica refaça suas posições neste item. Do contrário ficaremos sempre reféns destes profissionais ..... Jogador que me serve não é aquele que beija o distintivo, mas também não é aquele que mesmo ganhando uma fortuna precisa a todo instante de uma motivação extra para cumprir o seu papel: trabalhar, e no futebol, trabalhar é jogar bola. Jogador que me serve é aquele que entra em campo e joga com toda a gana que se preste a fazer por merecer o que recebe !   É de jogadores assim que precisamos. Que em 2012 tenhamos um time assim  porque só assim vamos retomar conquistas e recuperar a dignidade que perdemos e não estamos sabendo encontrar. Faz dez anos!

Carlos Josias
@cajosias
Facebook  C Josias Menna Oliveira

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