COLUNA DE CARLOS JOSIAS

PAULO PELAIPE EM RESGATE DE 2005 - A César o Que É de César !

Paulo Pelaipe é um homem polêmico. Sempre foi. Há quem o ame, há quem o odeie. Nunca se sabe bem porque uma ou outra mas as figuras polêmicas são assim, amadas e odiadas muitas vezes por tabela ( uns amam e odeiam sem saber exatamente o porquê ... em geral de ouvir falar bem demais ou mal em exagero e ao ouvir ... seguem em frente ). Sua passagem recente pelo clube, onde não teve a felicidade de sair vitorioso, aumentou o caldo desta questão. Não sou advogado dele, muito menos promotor acusatório, mas há tempos penso em escrever sobre isto por um dever, até em decorrência da paixão clubística, de resgatar uma parte ao menos de uma história que não vi ter sido contada como deveria e ou como realmente aconteceu. Alguns, e acho que foi o caso dele no episódio específico - ao menos - são esquecidos em grandes vitórias e lembrados só em ocasiões desagradáveis. Me parece justo fazer este resgate, e justiça deve ser feita sempre.

Era 2005. Eu estava Vice e encontrei, com o CA que assumia, o clube na rua da amargura, 2a divisão. Precisávamos tirar o clube da lama. A idéia, primeira, era profissionalizar o futebol e o nome de M Sérgio foi trazido pelo Presidente Odone que não queria efetivar um Vice ( figura, na realidade, afastada pelo Estatuto para dar lugar ao Assessor ) para ele próprio tratar de perto do futebol - contrariando a Scapini que almejava assumir. Mário assumiu e trouxe De Leon. O ano andava e o time não acontecia ( se sabia que o time era ruim, mas era o que o dinheiro podia comprar ). Mário fracassava na função e De Leon estava prestes a ser vaiado quando Odone telefonou para todos do CA objetivando trocar o treinador. Concordância maciça. O novo seria Mano, sugerido por PP e montamos uma estratégia para o anúncio ... PP espalhou que eu iria me encontrar com o treinador e ele foi com Alfredo Oliveira - o Carioca - a Caxias fazer proposta, enquanto eu, aqui em Porto Alegre, por telefone atendia a mídia sequiosa por saber quem seria e onde. Quando tudo ficou ajustado, lá na serra, PP me ligou e afirmou: tudo certo pode divulgar. Divulguei.

Ai faltava um Vice, ou um Assessor para o Futebol, ante a inevitável dispensa do Mário. Na ocasião, R Moreira líder do grupo que eu pertencia, e Francisco Rocha Santos - Vice do CA na Gestão 2011/2012 - do mesmo grupo, insistiram para que eu fosse para o futebol. Rejeitei. Motivos básicos: não era minha ´praia` e eu não achava adequado um Vice do CA assumir aquele cargo. E devolvi, vai tu Renato e eu dou respaldo político ao vestiário. E foi o que aconteceu. R Moreira assumiu o futebol e ao assumir, na coletiva, anunciou Paulo Pelaipe como seu escudeiro na missão. O primeiro telefonema de R Moreira que recebi já nesta função foi para obter liberação financeira para a contratação de um jogador indicado por Mano e era 150 mil. Sandro Goiano !

O primeiro jogo foi terrível, caimos por 4 x 0, M Sérgio não foi com a delegação, chegou depois, assistiu isolado num canto, não conversou com ninguém e depois daquilo acho que nunca mais o vi !

Eu cumpri minha tarefa, durante todo o período emprestei todo apoio ao vestiário, fui a TODOS os jogos do time, chefiei a delegação em todas ou quase todas as vezes ( quando o Presidente viaja a chefia é dele ) e a tarefa se cumpriu nos Aflitos.

E Paulo Pelaipe ?  Bem, R Moreira era homem muitíssimo ocupado. Pouco ia ao clube. Sua presença era cênica, em que pese importante até por isto. Homem respeitável, sem dúvida, idôneo, sem maiores comentários, com boa capacidade de expressão e não encontrava ressalvas na mídia,  mas o vestiário internamente era de Pelaipe. Sem tempo, Renato viajava e chegava em cima da hora, algumas vezes não assistia sequer a palestra ( o Mano permitia que fosse assistida por dirigentes .....) e alguns atletas mal o conheciam, ainda que o respeitassem, e o próprio Mano pouco ou nenhuma intimidade com ele desfrutava ... mas aparecia na entrevista quer na hora boa quer na hora ruim - e isto pesava e pesa: a aparência se mantinha, e isto era o que realmente importava. Paulo Pelaipe, discreto, era a quem Mano efetivamente confiava as angústias e estratégias, dividia as derrotas e repartia silenciosamente as vitórias. Intimidade. Os problemas com os atletas - de todos os tipos - como Pedro Júnior ( que fazia gol e reivindicava posição de titular ), Ricardinho, entre outros, era PP quem resolvia. Todas, eu disse, todas as questões de vestiário eram assumidas por ele até a porta e desta para dentro. O trabalho de PP não apareceu nos holofotes de 2005. Ou muito pouco. No hotel, em meio à festa, quando todos discursavam e comemoravam, quando champanhas eram estourados e até alguns menos cotados e de última hora eram louvados, PP quase que solitário e num canto do restaurante, jantava tranquilamente com alguns dos heróis verdadeiros da conquista.

PP foi decisivo em 2005, sem ele não sei se sairíamos do atoleiro. Na hora do rolo, jogadores, sai do campo, deixa o campo, antes de chegar até o Gramado Odone consultou a todos ( e não apenas um como conta lenda ) e passou por PP que foi um dos primeiros a dizer: Pelo amor de Deus não me tira o time ! Na verdade, naquele dia, apenas um queria a retirada do time. 

Em 2006 R Moreira e PP continuaram, conquistamos o campeonato gaúcho, para quem não se lembra, com defesas milagrosas de M Grohe no GREnal do 1 x 1 com Pedro Júnior metendo gol de nuca. O adversário foi Campeão da LA e do Mundo. 

Que ano para ser enfrentado em 2007, que ano. R Moreira seguiu adiante, deixou o cargo. PP abraçou a bronca sozinho tendo que encarar o rival com toda aquela pose. Coragem, foi o que teve. E fomos à final da LA. Proporcionalmente sair da 2a e ir a final da LA em 2 anos: façanha !

A César o que é de César. PP merece este resgate. Fiquei todos estes anos com a sensação de que lhe havia sido sonegada a verdadeira importância que teve e da sua trajetória histórica em 2005. Eu não tenho dúvida, naquele ano PP foi a figura mais importante do futebol do clube ! 

Ninguém precisa amá-lo mais por isto. Ninguém precisa odiá-lo menos por isto ... acho .... mas amem ou o odeiem, pouco importa,  o respeitem, se não por tudo, ao menos por isto:  não é favor, é obrigação por gremismo !  

Esta ´moeda` é dele, não a soneguem !

Abs